Os Medos No Caminho Do Artista (parte II)
4 min read2# Eu não sou original o suficiente (alguém está fazendo isso melhor)
Esse é um medo muito interessante no caminho do artista. No meio musical, parece haver uma incidência mais grave e identificável, uma vez que a memória auditiva e comparação de padrões, até para uma pessoa mais leiga, funciona com mais eficácia que, digamos, um apreciador leigo de artes plásticas que consiga identificar pintores que tem influências mascaradas de outros pintores, pois isso já envolveria um certo estudo de técnicas de pinceladas, estudo de matizes de cores, temáticas e outros atributos mais. Ou entender da estilística de vários autores no mundo da literatura e identificar também influências ou cópias descaradas. .
Todas biografias de bandas e artistas musicais que li, quando retratavam o cenário musical das épocas em questão, sempre mencionavam as toneladas de bandas que imitavam descaradamente (e que não duravam muito no mercado) bandas que tinham se destacado por trazerem abordagens mais originais nas suas composições. No anos 60, todas bandas em busca do mainstream queriam soar como os Beatles e Rolling Stones, por exemplo.
No meio de produtores ou engenheiros, a mesma coisa: havia aqueles inventavam técnicas originalíssimas de gravação, estruturas musicais, arranjos, etc e depois era tudo copiado e diluído. Apesar de nesse segmento – nas décadas seguintes do boom industrial da música – pedir-se-ia o contrário, que o produtor e ou o engenheiro conhecesse todas as técnicas dos pioneiros famosos e mais as suas próprias.
Portanto, bem vindo a um dos vários paradoxos desse caminho de produtor, engenheiro e músico. Originalidade nos resultados e técnicas emprestadas no processo? Originalidade nas técnicas do processo e resultados ´ah, mas isso soa que nem aquele artista daqui, aquela banda acolá? Há espaço para ser ultra originalíssimo, depois de décadas e décadas da indústria musical de artistas, produtores e engenheiros saturando o mercado mundial? Tem que ter uma referência sutil, sublimada nas criações, que remeta aos grandes nomes?
Nesse artigo da rede, a orientação é um tanto dúbia, pois se afirma que isso vem acontecendo desde que Arte se chama Arte. Com artistas sempre emprestando elementos de outros, mas –também – acrescentando coisas novas no processo criativo. Frase de impacto?
Aqueles que não querem imitar ninguém, vão acabar produzindo nada – Salvado Dali
O conselho final do artigo é que você pare de tentar reinventar a roda. Pelo contrário, use-a, aprenda do seu ´mecanismo´, vá copiando-a do seu jeito e depois – por fim – faça sua própria versão dela. O importante aqui é você usar todos os processos disponíveis pra encontrar a sua verdade como artista, e isso pode levar um bom tempo. E é nesse tempo que você passará por todos degraus do processo. Algo mais ou menos assim…
Vamos ao próximo…
3# As pessoas não vão me levar a sério como artista
Vocês já devem ter visto diversos memes no Facebook, ou em sites dedicados a músicos, coisas do gênero: Mãe, quando eu crescer, quero ser músico. Meu filho, decida-se: não dá pra ser ambos. Ou a famosa: O que faz da vida? Sou músico.. . Mas trabalha em quê?
Enfim, apesar do cunho humorístico que acompanha sempre essas frases, não passa de um reflexo como a maioria do mundo enxerga alguém que vai se embrenhar pelo caminho das artes. Afinal, a arte é um hobby e não um trabalho de verdade. Não é mesmo??? (just joking, mutherfucker…)
Outro grande perrengue das pessoas que escolhem esse caminho é a relação que vão ter com seus pais. Num país como o nosso ainda, que não tem tradição secular de artes, podem se preparar para eternas discussões, daquelas que rondam o inconsciente coletivo da classe: ´Você está louco, isso não dá dinheiro´ e outros adjetivos presumidos que é melhor nem mencionar. Naturalmente, isso não deve ser trivializado, achando que todos os pais são assim. Há muitos exemplos de apoio, assim como há muitas histórias amargas de rompimentos e ou indiferença.
A proposição é que a sua carreira como artista somente será séria na medida em que você levá-la a sério. E a primeira questão divisora de águas é essa:
Você trabalha para sua arte como um trabalho ou você só trabalha com ela, de vez em quando, como seu passatempo?
Depois, seguem-se mais essas:
Quanto trabalho você realmente coloca nela diariamente? Se você fosse o seu chefe, você pagaria um salário para o esforço que você está fazendo exatamente agora?
O resumo da ópera, porém, é que eles (pais, amigos, sociedade) só vão levar você e sua arte a sério o quanto eles te verem levando-a a sério. Se eles o virem colocando de 10 a 15 horas, dia após dia de trabalho, não só em sua arte, mas comercializando-a também ($$$)… bem, daí eles vão começar a vê-lo como um “artista de trabalho”, em vez de apenas o filhinho/a, amiguinho/a que gosta de brincar de artes.
Nada fácil, não? Mas o que vocês preferem: verdades duras ou mentiras confortáveis?