Como Aprimorar Seu Ouvido Crítico (parte I)
4 min readContribuição: Engenheiros de Gravação Mark Garrison, Michael White
“Confie nos seus ouvidos.” “É o que soar certo para você.” Estes são ditos populares que você leu em praticamente todos os artigos de áudio na rede ou em livros, sobre a escolha de microfones, posicionamento e captura do som. Mas se você for confiar em seus ouvidos para ouvir e identificar as características essenciais de uma mix bem equilibrada e profissional, você terá que treiná-los em primeiro lugar. Ouvir e escutar não são a mesma coisa, como qualquer pai de adolescente – numa daquelas de sermão – poderia te dizer.
Você consegue distinguir a diferença entre uma Telecaster e uma Les Paul? Um Vox Continental e um Nord Electro? Tremolo ou vibrato? Phaser ou Flanger? O fato é que se você é um profissional experiente ou um novato, há uma ampla gama de recursos disponíveis para ajudá-lo a desenvolver e aperfeiçoar suas habilidades de ter um ouvido crítico e apurado. Este artigo pode ajudar você a começar o treino.
Equipamento necessário: seus ouvidos
Começaremos com uma definição simples, cortesia do engenheiro de gravação / produtor e instrutor Michael White, cujos créditos incluem desde todo o replanejamento do estúdio de Whitney Houston (ele também foi seu engenheiro-chefe por 15 anos) até “o homem por trás do aquário”, em álbuns de David Byrne, Rolling Stones e dezenas de outros:
“Escuta crítica vem principalmente do ponto de vista do engenheiro. Você está ouvindo os detalhes físicos da música – resposta de freqüência, dinâmica, timbre, panorama, e como instrumentos são mixados numa sessão “.
Agora, vamos contrastar isso com o pensamento analítico*, também um fator na elaboração de uma mixagem profissional:
*analítico aqui adota um significado diferente da tradução em Língua Portuguesa (que tende ao racional), pois na língua inglesa refere-se também ao ´agir a partir de uma percepção de partes e correlações primárias com um objeto´. ex: Muitos dos pianistas mais sérios se voltaram para uma performance mais analítica, com foco renovado nas ideias e arquitetura da música – Annalyn Swan. (nota do tradutor)
Voltando…
“Escuta analítica é tudo sobre feeling (sentimento) e significância. É importante entender que a intenção (carga) emocional de uma performance musical refletirá no som”.
Como melhorar suas mixagens
Vamos confiar na sua percepção para decifrar o significado da música e concentrar-se, por ora, em alguns fundamentos e exercícios que ajudarão você a aumentar a sua confiança na escuta crítica. Para isso, recorrerei ao vizinho canadense, escritor e gênio da gravação Mark Garrison, que começará por desconstruir os elementos de uma mix e o desafiará a enfrentar um exercício de escuta crítica.
Antes de começar, porém, vamos olhar para os componentes que fazem uma grande mixagem. Quando Mark está ensinado sobre mixagem, ele gosta de usar uma variação de perguntas sobre os elementos descritos no The Mixing Engineer’s Handbook, de Bobby Owsinski (http://www.bobbyowsinski.com).
Balance (equilíbrio/distribuição)
Será que todos os instrumentos estão com importância adequada na mix? Há instrumentos ´perdidos´ na mix, sufocados por outros? Há instrumentos mais proeminentes que outros? (A resposta pode muitas vezes ser “sim” para essa última, mas isso deve ser fruto de uma decisão e não de um acidente).
Panorama
Os instrumentos se acomodam em vários pontos no campo estéreo (esquerda para a direita) nos alto-falantes? O ponto de interesse muda durante o som nesse campo?
Freqüência
Todas as frequências estão representadas igualmente, sem discrepância? Há algo acontecendo (falta/excesso) em todas as faixas de freqüência? (Há momentos em que nós, deliberadamente, escolhemos ter um pouco mais de ´presença´ em uma faixa de freqüência pertinente – ex: um concerto para violino soaria ridículo com frequências graves sobrando.Novamente, isto deve ser uma decisão consciente).
Dimensão
Há alguns instrumentos soando mais perto ou mais longe do que os outros? Existe uma sensação de movimento na mix?
Dinâmica
Há mudanças na dinâmica ao longo da música? Na maioria das vezes em gravações, usamos a dinâmica como termo para se referir às alterações no volume, mas precisamos considerar outras mudanças, tais como: ritmo, tempo, tom (maior ou menor).
Gerando Interesse
Há dois pontos importantes para o tal ´ interesse´:
1- Há algo de memorável na mixagem – ganchos técnicos? Estes poderiam ser freqüências suaves numa parte melódica, ou uma timbragem memorável num solo de guitarra, efeitos distintos bem utilizados, uma mistura de retrô e moderno etc (sons de referência: “Slow Like Honey” Fiona Apple; “ Smooth” Santana; “Walking On The Sun” Smash Mouth).
O segundo, e menos considerado, é o seguinte: o que puxa o ouvinte através da música? Quando o instrumento principal para de tocar, o que assume como o foco da música? É tão bom quanto o que vinha antes? A analogia que eu gosto de usar é um programa de TV ou jogo. Se os personagens deixarem o palco, outros personagens devem entrar imediatamente para manter o interesse do espectador. Se um programa de TV tinha longos intervalos entre diálogos de fundo e atrações, todo mundo se cansava e mudava de canal. A música não é diferente.
Tem tudo isso?
Excelente contribuição, são alguns pontos muito importantes para podermos ouvir melhor, analisar os excessos e/ou discrepâncias em nossas produções… Parabéns!
Texto bem escrito! ate eu entendi. Mandou bem!
Muito bom Marcelo Voss, grato pela contribuição.
Ótima contribuição Marcelo Voss
Show de bola!
Muito Bom 🙂
Vlw ótimas dicas
Obrigado a todos pelas mensagens! É muito estimulante ver esse tipo de reação no meu 1ro artigo. Isso estimula ainda mais a querer aprimorar os que vierem a seguir
Muito grato, Marcelo!